15 de ago. de 2007

Douze.

[escrito há muito, é velho, velho. um ensaio que tanta gente já leu que arrisco chamá-lo 'clássico']

December Rain - cedendo a falsas tentações

Foi nessa tarde chuvosa que resolvi escrever-lhe tal carta, uma que nunca fará juízo. Resisto, pois não quero imortalizar o que nunca fui capaz de esquecer. Mas... Como impedir o galo de cantar?
Vasculho nos confins de minh'alma por uma única entranha que não grite pelo seu nome. É preciso deixá-lo partir, suas linhas fracas vão se apagando, longe da minha realidade.
Dizem que estou mais forte, que me transformei, que superei seu amor. Ou a falta dele. E dizem que achei a 'forza della vita' e que nossa maior virtude está na capacidade de amar muitas e muitas vezes. Mesmo quando achei que não aguentaria outra decepção, vi que é possível conviver com tudo isso. Um dia de cada vez. Uma pequena dose de nostalgia a cada pôr-do-sol.
Agora, se isso estivesse superado, não estaria escrevendo-lhe. Por mais que tente, sei que só quero a você. Tanta saudades dos nossos tempos, das nossa horas. Ainda sinto sua falta. A falta não é o vazio; é o contrário. Algo cheio demais, que transborda em mim, que berra e esperneia pra sair, mas fica contido, e dói, e arde, e agoniza.
Hoje, secretamente, vi lá fora um beijo roubado, um último suspiro. Beijo interminável, aquele. Cena de cinema, fazia com que os olhos mudassem de cor. Nós estávamos lá. Cabelos, mãos, pernas, olhares. Sob roupas molhadas, na ponta dos pés, era capaz de sentir nossas almas se tocando, ternamente. Um beijo que continha a ansiedade do primeiro e o desespero do último. Pingos caíam. Cheiro de orvalho, cheiro de você. Um grande vício, um ato sincero, um sentimento recíproco. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Aquela paixão era condicionada a nós dois, dois que nunca deixavam de se surpreender. Um última tarde juntos, aproveitando com todas as forças o fim de nossa pseudo história eterna. E nem mesmo aquela que teve a façanha de acabar com toda a ardência, aquela que é sua verdadeira tentação, entenderia a intensidade daqueles pingos.
Mas saí do devaneio e todos os anjos me deixaram nas mesma velocidade com que me tomaram, deixando apenas pingos escorrendo pela face marcada. Fiquei só, com o momento que tanto anseio, antes que seja tarde. Vi, então, que mesmo o tarde já passou, o tempo acabou para nós. Como sempre foi, quase como desconhecidos.
Você sempre foi tão indiferente. A falta de cumplicidade me enlouquecia a cada dia e aqueles olhos nunca me deixaram escapar seus mais profundos anseios. Olhos amêndoas que estarão para sempre acesos em minha memória. Profundos, cativantes, sinceros. O que me atormenta a alma é saber que você nunca me olhará como o fez a do nome de conto-de-fadas. Seus olhares tão únicos, sempre a desejá-la.
Hoje você a tem e eu desejo intimamente nunca tê-lo conhecido. Não esqueço ao levantar, ao deitar ou ao sonhar. Aqui me despeço, em meio a pingos incanssáveis, sem saber ao certo quanto tempo ainda aguentarei. Mesmo quando a chuva passar, pela tentação daquele que nunca foi meu.
Da que lhe tenta, tentação.
but sometimes, sometimes you just have to walk away.

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